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Escrita Criativa / Califórnia, 2º Episódio


Humilhação


"– Califórnia, apanha! – Um pedaço de terra misturada com lodo acabava de lhe bater no peito.

Califórnia tinha o cuidado diário de se por apresentával para a sua mãe, gostava que ela ficasse orgulhosa dele. Gostava muito da sua Mãe. Por isso, todos os dias escolhia as melhores roupas, as melhores combinações, tudo para estar bonito. Na escola... bem, era sabido que ele era estranho, e os miúdos não o deixavam em paz por isso mesmo. Todos os dias andava à pancada com algum miúdo, ou tentava fugir de algum grupo, ou via os rapazes da turma a importunar os momentos que tinha com Rita, que eram raros e valiosos.

– Ahahah, que palerma, essas roupas limpinhas já não são tão limpinhas. Agora estás todo borrado; Oh, é isso, Borrado é o teu novo nome: Borrado, Borrado, Borrado...- Mais um dia e mais um palerma a incomodar. Não percebia porque era vítima disto. Já havia lido sobre isso e achava-se um desses rapazes.

Olhava para eles com olhos furiosos, capaz de os explodir, mas sabia que nada podia fazer; eram mais, maiores e de nível inferior; por mais que discutisse, havia sempre alguma forma de eles levarem a sua conversa avante. Podem ser burros, mas são bons nisto!

Olhou para a camisola, triste e enfurecido. Esbugalhou os olhos de tal ódio que nutria por aqueles rapazes, e levantou a cabeça! De repente, um dos jovens foi arremessado pelo ar por uma onda de choque; os outros ficaram embasbacados por tal e começaram a berrar. Do chão, abriram-se fendas  e surgiram raízes que os agarraram e os viraram ao contrário. Toda os alunos da escola reuniram-se à volta de tal situação e começaram a lançar risos estridentes, mas apreensivos; afinal de contas, estavam raizes a sair do chão e viam Califórnia a projectar ondas de si. A roupa era-lhes tirada pelas raízes e ficavam na mais pura das nudezas para gáudio geral. Califórnia percebeu que controlava os acontecimento e... Levou com outra bola de lodo.

Tinha-se compenetrado de tal forma na sua imaginação que se  esqueceu de esquivar da bola que viu a sair lentamente da mão do rúfia, a rolar vagarosamente em sua direcção, a subir e depois a descer,  e a rapidamente tapar a visão de Califórnia. Caiu, rastejou, levantou-se e pôs-se a correr em fuga.

Chegado às aulas, as professoras ficavam escandalizadas. Ele não tinha coragem de dizer quem tinha sido o responsável, sabia que ia ser pior da próxima vez, e as professoras começaram a ficar preocupadas com a sua sanidade mental: Não é normal; primeiro, passa todas as aulas aluado; agora, põe-se neste modos. Não percebo.. ele é um excelente aluno.   Temos de avisar os pais.

Algumas vezes, tentava justificar o seu estado, mas a emenda era pior que o soneto.

- Eu... ia a caminho da cantina e lembrei-me de que era melhor comer a terra dos vasos do que comer a comida. Enche mais a barriga!

Era a risota geral. Ouvir isto ainda fazia os malfeitores mais felizes, que começavam de imediato a planear novas formas de o humilhar.

Quando saia da escola, a rotina era sempre a mesma: um grande banho quente, um bom lanche, fazer os trabalhos de casa, ler o livro favorito e preparar-se para os treinos. À  noite, via os seus programas favoritos na televisão por cabo e divertia-se com desenhos dos seus mundos imaginários: dos seus exércitos, naves e muito mais.

Eram dias normais, mas não se apercebia que tudo iria mudar.

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