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Escrita Criativa / Guerra, 2º Episódio

Depois de ter acabado a história de Vicente em "Escrita Criativa / Guerra", fiquei com um sabor de desilusão. Quero eu dizer que fiquei com pena de nunca vir a saber o que aconteceu ao rapaz, por isso vou publicar um segundo  episódio.

Caso não tenham lido, ou queiram reler, aqui está o link para o primeiro episódio: http://maisdoqueummuitos.blogspot.com/2011/09/escrita-criativa-guerra.html

" - Abram a comporta, vejam se há alguém vivo. – O som parecia distante, diluído no espaço, e as imagens torcidas e tingidas por um tom excessivamente claro.

Os operadores da Central de Ligação Terrestre estavam perplexos com a chegada de uma cápsula salva-vidas do Forte de Vila-Real. Estava em mau estado, tinha rasgos de sangue na sua fuselagem e pequenos pedaços em decomposição de alguma coisa. Lá dentro, o que parecia em mau estado estava afinal bem; era um jovem com não mais que 25 anos, em descanso.

-Ponham-no a salvo e informem-me assim que estiver recuperado, quero saber o que se passou para isto chegar aqui neste estado. A Central foi informada de um ataque a norte de Vila-Real, próximo da fronteira com as defesas espanholas; parece que houve grandes perdas de ambos os lados. – O Major andava cada vez mais preocupado com as defesas do perímetro de segurança do que restava de Portugal.

-Major, ele está bem, mas ainda um bocado abalado. Estes pedaços na fuselagem são de bestas.- Respondeu um dos subintendentes.

Passaram algumas horas desde que tinha chegado, estava na enfermaria em repouso, quando acordou.

-Onde estou? - perguntou, ainda confuso e a sentir os efeitos de uma viagem à velocidade máxima do sistema de salva-vidas. Devo ter desmaiado com a aceleração da cápsula, não estava preparado para aquilo. Esfregou a cara, e olhou para o espelho ao lado da cama. Estava pálido. Tive a horrível impressão que as bestas conseguiram interceptar a cápsula segundos antes do seu disparo, mas deve ter sido só um sonho. Não acredito que tenham... isso significaria que as forças tinham sido dizimadas.

- Bom dia, Vicente. Estás em segurança, no hospital S. João XV. Descansa e recupera bem. Entretanto, podes olhar pela janela, tens uma boa vista para te ajudar a recompor. – A enfermeira era já de si uma agradável visão: limpa, bela, loira, de branco, todo o hospital parecia ser em branco; nada como as memórias que tinha do perímetro de segurança, marcadas pela sujidade, terra presente por todo o lado, marcas de garras e mordeduras na protecção metálica do forte, marcas da corrosão de ácidos e barulho de máguinas de guerra.

A cidade era estonteante. Quatro milénios de evolução renderam à humanidade algumas lições, e tal tinha reflexo na beleza do que via: o Douro ainda se mantinha, mais azul do que nunca; havia mais pontes,  casas com um aspecto étereo ao longo de toda a costa, parecia haver uma aura dourada em toda a cidade, um lusco-fusco presente para qualquer lado que olhasse, máquinas de transporte automático e pessoas nas suas vestes simples de baixa tecnologia, ao invês do resto da cidade. O Porto era um centro digital, de informação e tecnologia  retirado de um livro de ficção científica. Já não se lembrava das Cidades, tanto era o tempo que tinha estado na orla defensiva; que bem lhe soube rever o apogeu humano.


-Há alguém que possa chamar para falar sobre o que aqui me trouxe? Preciso de falar sobre a invasão de bestas que ocorreu em Vila-Real. – Perguntou e esclareceu à enfermeira.

- Bestas? Tu viste bestas? – Não era comum os Citadinos verem bestas. As grandes Cidades eram protegidas por um sistema repelente de tais monstros. Parecia um escudo de protecção a toda à volta, mas o gasto energético era tal que apenas as Cidades podiam ser protegidas, e sabia-se que começavam a haver bestas mais resistentes ao seu efeito.

-Sim. Mas podia chamar, se faz favor?

Enquanto esperava, lembrava-se das últimas palavras de Ricardo, que desejava não serem as últimas. Lembrava-se em especial das que não tinham sido ditas a ele, mas ao intendente que tinha descido as escadas a avisar da urgência da sua presença nos níveis superiores:

“ – Senhor, precisamos de si lá em cima. – O intendente reparou na preparação da cápsula de fuga. – O que pensa que está a fazer, essa cápsula é para ser usada quando este for o último reduto de defesa e não tivermos mais para onde ir!

- Deixe de ser burro, é uma capsula para um só homem, imagine para quem. Se há alguém que deva ir, é este rapaz. É por ele que lutamos, ele é o futuro.

- E nós? Senhor.

-Nós? Somos sombras do passado. Vamos.” "

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