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Escrita Criativa / Guerra, 4º Episódio

Resgate

“As luzes piscavam, interminitentes, com clarões que atordoavam os sentidos. Os sistemas de visão nocturna não ajudavam: feitos para intensificar a luz detectada, eram obsoletos quando sujeitos a tais clarões. Tinham de usar os seus olhos para avançar pelo Forte. O aspecto do Forte era algo semelhante aos filmes de ficção apocalípticos. A imaginação viu o futuro e o futuro apresentava-se diante dos olhos da equipa de resgate. 

No Forte, os sistemas de inteligência artificial - os humanóides metálicos - eram a sua melhor aposta de sobrevivência. Detectavam a presença de organismos biológicos e o enquadramento espacial era feito por um híbrido de sonar e visão. Para onde eles disparavam, a força de resgate disparava também. Vicente estava habituado a jogar estas situações no conforto de um sofá, podia reiniciar e fazer o que lhe apetecia; não havia consequências. Aqui? Bem, a vida estava em jogo.

Podiam simplesmente recuar e fugir, mas tinham despoletado uma bomba: um Sensor havia percepcionado a  presença humana e havia bloqueado os sistemas de comunicação. Era uma questão de tempo até que uma Colmeia enviasse reforços.  A sua única forma de resposta seria reactivar o Forte e defender até os eliminar; de outra forma seriam mortos.

-Temos de chegar ao núcleo, reactivar o sistema de energia, fechar as comportas, levantar as linhas de protecção, recarregar todas as armas, procurar sobreviventes e eliminar qualquer ameaça. Há muito a fazer, vamos, vamos, vamos! Vou dividir em seis equipas de cinco, cada uma com dois sistemas AI. Equipas Alpha, Bravo, Kilo, Tango, Whiskey, Zulu.

 O poder de organização sobre pressão do Sargento advinha da experiência de muitas batalhas travadas; já sabia qual o sabor da Guerra. Sabia também que muitos dos que morrem têm os seus corpos como hospedeiros para o crescimento de novas Bestas. Qualquer meio-morto teria de ser abatido, pelo sim pelo não.- Matem tudo o que for suspeito.

Vicente ficou na equipa Tango, e ficou encarregado da procura de sobreviventes. As Bestas sabiam do que eles andavam à procura, e iriam proteger os pontos estratégicos. Por isso, a procura de sobreviventes era a tarefa mais simples, era provável que aparecesse um ou outro para a abater, mas os sistemas automáticos lidariam perfeitamente com isso.

-Vicente. Tu conheces a planta deste forte. Quais são os compartimentos adequados a um último reduto? – Quando não estava presente o Sargento, era o Primeiro-Cabo que assumia o comando.

- Lembro-me de eles falarem da secção de transporte subterráneo como último reduto. Deviamos ir até lá, se há algum sobrevivente, é lá que estará! – E tem de estar.

As dúvidas quanto a Ricardo estavam a assolar a sua integridade psicológica. Estava com dificuldades em aceitar que podia ter sido morto. Sabia que só estava vivo por sua causa, que fora sempre ele quem o ajudara; o único sensato naquele Forte. Esperava agora que fosse também um sobrevivente.

As equipas mantinham-se em constante actualização.

-Equipa Tango. Estamos a descer para o terceiro nível inferior; já nos deparamos com algumas bestas, mas nada de preocupante. Não há vitimas a registar. Mais alguns met...

A voz do Primeiro-Cabo foi interrompida e apenas continuou com um ligeiro silvo e um som próximo de um grogue, era sangue que escorria pela sua cabeça a baixo; olharam todos na sua direcção e encontraram-no com a cabeça desfeita com algo parecido com um corno incrustado. Foram banhados por uma salva de sangue da sua cabeça. Era o ataque de Porcos Espinhos. Eram bestas desenhadas para batalhas em ambientes fechados; do tamanho de um touro, os seus espinhos eram projectados em todas as direcções, algo semelhante a uma bomba deflagrante, mas com um alcance mostruoso, suficiente para evitar a detecção dos AI. Os sistemas automáticos de detecção não eram eficientes o suficiente para interceptar objectos a alta velocidade, e assim caiu o Primeiro-Cabo; e o Segundo.

- Protejam-se com os sistemas automáticos. Atirem uma chama lá para o fundo, temos de ver onde está o cabrão. – O Terceiro-Cabo pegou no sistema de comunicação, de onde se ouviam pedidos de suporte. Parecia que tinha sido planeado um ataque simultâneo. – EQUIPA TANGO. ELES TEM PORCOS ESPINHOS, ACTIVEM OS AI PARA MODO OFENSIVO.

Do lado de lá, ouviam-se as equipas a referir a presença dos mesmos monstros, e ouvia-se o som de morte; todos pediam reforços.

O modo ofensivo dos humanóides era o equivalente humano a um ataque de fúria. Os humanoídes corriam aleatoriamente, deixando-os desprotegidos , mas eliminando tudo no seu caminho.

- Temos de chegar à secção de transporte subterráneo, vamos atrás deles enquanto pudermos e tentamos forçar a entrada.

Quando foram postos em modo ofensivo, começaram a surgir Trepadores por detrás, aproximando-se cada vez mais à medida que os dois humanóides se afastavam.

Vicente teve de matar. Não era algo que lhe agradasse. O impulso era como um coice de cavalo, mas sabia que qualquer coisa que fosse atingida não tinha forma de sobreviver. As bestas morriam de forma explosiva, parecia que o corpo deles estava prestes a rebentar e quando era atingidos explodiam como fogo de artifício;era uma ilusão proporcionada pelo poder destrutivo das suas armas.

-Aqui! Aqui! Sigam-me!

Tinham chegado finalmente ao seu objectivo, mas as portas estavam fechadas. Não esperavam reforços, mas ouviram as comportas a abrir. Comportas pesadas e reforçadas, excelentes para último reduto. Sairam de lá três sistemas híbridos de combate; homens vestidos com armaduras robóticas. A força destrutiva era imensa, e percebia-se agora como seria possível alguém resistir tanto tempo naquele Forte: um único ponto de entrada, e uma máquina de destruição em massa; aguentavam enquanto não perdessem as forças.

-Pensava que nós é que iamos ser resgatados, mas parece que o tabuleiro virou. – A voz de Ricardo ecoou na alma de Vicente.

-Ricardo! Aqui! Sou eu, o Vicente!

-Vicente? Que raio fazes aqui, enviei-te para o Porto para te salvar, não devias ter vindo. Mandavas uma equipa de busca, mas não vinhas com eles.

-Não podia fazer isso. Tinha de ter a certeza...

- Sempre foste palerma – Ouviram-se risos no meio de gritos de fuga, enquanto os resgatados salvavam a equipa de resgate e enquanto Bestas eram dilaceradas num estrondoso festival de corpos.”

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