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Escrita Criativa / História de Portugal

Bartolomeu de Gusmão


 “– Não deviéis estar com os fiéis? Os Jesuítas servem para alimentar a alma do povo, não vejo o que possa sair das suas mãos a não ser bençãos. – Omnipresente, o Mestre da Ordem Jesuíta no Brasil metia a sua mão em qualquer actividade, tomando a certeza de que tudo eram bem visto aos olhos de Deus.


– Ocorreu-me que por mais que lhes alimente a alma não lhes chega comida e água à boca. Vou dirigir esta obra e vou ter a certeza que tenho alguém cuja alma precise dos meus conselhos; não gosto de pregar aos peixes.


Bartolomeu de Gusmão era um jovem de vinte anos com uma mente mecânica e experimental, longe do espiritualismo que absorvia a maioria dos Jesuítas de então. No Brasil a mando da Companhia, estabeleceu o seu seminário numa colina, e não lhe agradava o facto de ter de descer de tal posição para ter acesso à água do rio, apesar de ser uma posição protegida. Um invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar. Era assim que ele entendia a sua bomba hidráulica.


– Cuidado! Estraguem isso e continuam a ir buscar água ao rio.


–  Senhor, obrigado pela sua alma caridosa; os seus engenhos são maravilhas, vão permitir regar as terras ao abrigo desta colina. Deus foi generoso consigo e abençoou-o com o dom da magia. – As palavras doces da indígena não escondiam a desconfiança sobre o funcionamento do sistema planeado por Bartolomeu. Afinal de contas, era um tubo pela qual entrava água de um lado e saía no alto da colina. Não percebia como podia a água cair para cima.


– Não é magia, é mecânica elementar. Não precisas de dar graças a Deus. – Se bem que a conclusão destas obras é uma boa oportunidade para me afirmar competente nas ciências e assim poder ingressar na Universidade de Coimbra. Mas primeiro tenho de me ordenar padre.


Os dias eram passados entre a azáfama da construção da bomba hidráulica, o estudo da palavras de Deus e a educação da população índigena. De acordo com o Mestre, os indígenas eram selvagens, sem educação nem alma; a força Jesuíta já estabelecida lutava por inserir uma alma a estes animais  e  acreditava este ser um bom campo de treino para os noviços aprenderam o seu ofício. Era uma aprendizagem mútua, se bem que os Jesuítas percebiam a sua quota de aprendizagem como uma necessidade para se aproximarem dos selvagens. Nada tinham a aprender com eles, tinham apenas uma missão: converter.


Se havia algo de que os selvagens gostavam de fazer quando não tinham que forçar a entrada de algo novo neles, era festejar. Todas as noites reuniam-se em torno de uma fogueira, enquanto cantavam e dançavam os seus costumes tradicionais. Com eles, os Jesuítas mantinham a ordem, não deixando que nenhum acto imoral tentasse corromper o seu trabalho.


– Eles podem ser selvagens, mas fazem boas festas – Bartolomeu não era um Jesuíta examplar, não se afastava dos prazeres mortais, aproveita os bons momentos das festas para se aproximar dos selvagens, que também servia como desculpa para tal.


– Discordo, são apenas animais a saltar e espernear. A palavra portuguesa que mais se aproxima a este disparate é dançar, mas aproxima-se mais um bando de porcos a rebolar na pocilga. – O Mestre era intransigente, mas, apesar de desprezar tais índigenas, sentia piedade pela alma que não tinham.


– Olhai, vê-de como gostam de lançar aquelas bolas de linho para a fogueira. Divertem-se pelo meio delas, enquanto elas queimam e sobem nos ares.


Bartolomeu nada viu da mensagem que o seu Mestre lhe tentava mostrar, apenas viu uma superfície esférica a flutuar no ar. Lembrou-se do príncipio de Arquimedes: Todo o  corpo mergulhado num fluido em repouso sofre, por parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo. Imaginou uma bola de linho batido grande o suficiente para elevar um homem. Fantasiou a possibilidade de levantar objectos no ar. Tinha de ter algo a ver com o fogo e a forma das bolas de linho.


– Eu cá não vejo nada de mal nisto, Mestre. Acho-os bastante criativos. Talvez ingénuos no que fazem, mas sem dúvida criativos e divertidos. Eles bem dizem que sentem que voam quando fazem estas celebrações. Talvez um dia nos ensinem a voar.


– Parece um blasfémo a falar; veja os seus modos, ainda sou eu quem tem autoridade aqui.“


Facto Histórico: Para quem não saiba, Bartolomeu Gusmão é português e é considerado o pai da aeronáutica.Ontem, dia 19 de Setembro, celebrou-se o aniversário da invenção do balão. Por isso, consagrei hoje um pequeno espaço para dar mérito a quem teve o trabalho conseguir tal feito, e não só.


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