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Escrita Criativa / Guerra - 5º Episódio.





Sobrevivência


“ – Sois tudo o que resta da equipa de resgate?

- Não, dividimos a força principal em cinco equipas, com o objectivo de limpar, reactivar e organizar o Forte o mais depressa possível. Se bem que todos eles foram atacados pelos mesmas Bestas que nós. Ouvimos pelo intracomunicador... É provável que precisem de ajuda. – O terceiro-cabo era tudo o que restava da hierarquia militar da equipa Tango, juntamente com Vicente e um outro soldado.

- Se há alguma coisa a ser feita, é agora, não temos muito mais tempo. Vamos primeiramente ao núcleo de activação. Salvaremos quem estiver vivo. O mais importante é activar os sistemas automáticos de defesa; não somos o suficiente para nos salvar. – Ricardo já tinha sobrevivido a muitas batalhas contra Bestas; sabia a sua forma de agir, e sabia que se não fossem rápidos tudo teria sido em vão. Dependiam dos sistemas automáticos.

A sua missão era simples, as armas eram  poderosas e estavam apoiados pelos sistemas híbridos de combate - grandes armaduras com poder de fogo destrutivo. Já não era uma missão de resgate, era uma de sobrevivência.

Cruzaram-se com duas equipas e os seus sobreviventes, menos do que havia inicialmente, mas Vicente não sabia bem quem havia morrido. Juntaram-se e continuaram a sua busca; estavam todos de acordo quanto à acção das Bestas: ia ser rápida e cortante.

O caminho foi atribulado, com suor, sangue e cheiro a medo. O ambiente de terror era proporcionado pelas luzes intermenitentes, pelas faíscas dos cabos expostos e cortados pelas garras das Bestas, pelas chapas e metais retorcidos pela acção do poder físico de tais montros, corpos e óleos, sangue e terra espalhados pelo chão.

- O que é que as pessoas fazem quando sabem que vão morrer?

A pergunta deixou Ricardo atónito, mas respondeu com a severidade e seriedade de sempre, com um subtil toque delicado - Vicente, não sei...Eu já passei por isso mais do que uma vez e não tem nada de romântico; a única coisa que faço é agarrar-me o mais possível ao que me resta e, se tiver sorte, o que tinha por certo acaba por me favorecer e fico com mais um dia para contar a história. Ainda hoje me provaste isso. Já agora, ainda não te agredeci por teres vindo salvar-me. Obrigado.

Vicente olhou com orgulho, mas nem tanto; estava ali para o salvar e salvou, mas quem os salvaria? Os olhos de Vicente reflectiram isto e mostraram-se incertos e duvidosos; acreditara em Ricardo antes, mas hoje já não tinha tanta certeza; a sorte não favorece todos, como já tinha sido provado pelos que morreram nesta missão.

A activação do sistema foi mais rápida do que pensavam. As linhas automáticas levantaram-se poucos minutos depois da activação. Se havia Bestas lá dentro ou lá fora, já não entravam ou saiam, apenas faltava eliminar os que ainda estavam no Forte antes de o ataque exterior começar.

Ricardo assumiu a liderança, sendo a patente militar mais elevada.

- Já não somos muitos – Contou quinze, e cinco humanóides; uma outra equipa havia-se juntado ao grupo.- Mas é o suficiente para a defesa deste Forte. Precisamos de todos lá em cima, na Torre de combate. Apenas seis canhões automáticos ainda estão funcionais, o resto ficará a dar apoio de combate próximo, se as bestas conseguirem entrar. Há algumas armas de longo alcance que podiamos usar. Mudamos para armas de combate corpo-a-corpo quando elas se aproximarem. Vamos precisar de alguém nos híbridos para vigiar a porta de acesso interna. Deve haver muitas Bestas por aí, apenas não se manifestaram. Deixemos os humanoides nos túneis de acesso. Dár-nos-ão segurança.

As principais recargas dos canhões automáticos pesavam imenso, num total de vários milhares de toneladas. As balas mais pequenas pesavam meio quilo. Os portões de entrada eram protegidos por pulsos lasers de elevada potência, sendo revestidos com um material reflector, tornando cada pulso uma série mortal de feixes cruzados, fulminando as bestas sem nunca chegarem a perceber pelo que tinham sido atingidas. A estratégia...

Vicente não tinha acabado de observar o que havia disponível para lutar, quando o chão começou a tremer: chegaram.

Subitamente, tudo parou. Os estalidos metálicos dos sistemas ecoavam pelos túneis, mas todos estavam apreensivos; ninguém se mexia e todos estavam calados, à espera. A respiração profunda antes do mergulho.

Uma linha foi activada, o estrondo abalou com a estrutura do Forte e deu início à luta. Começara.

À distância, não pareciam ameaçadores, sendo abatidos em grandes quantidades. Alguns dos  canhões ainda não estavam operacionais, enquanto outros já abatiam a força invasora. Tudo parecia distante numa fase inicial, até que a primeira das bestas entrara na torre, sendo abatida pelos sistemas híbridos. Vicente não aguentara o choque da aparição do monstro e caiu, tal como muitos.

- Aguenta-te, rapaz; não te deixes assustar por um só. Tu ainda vais sentir o toque da pele espessa, rugosa e oleosa em ti; aí sim, vais-te mijar todo. – Ricardo ria-se. Havia sentido o toque da guerra por algumas vezes e tornara-se uma verdadeira máquina de combate.

Vicente tinha os olhos dilatados, nunca vira uma força de bestas tão grande; e eles tão poucos.

- Continuem, reforçem o perímetro a sul. Cuidado com...

A torre abalou com o rasgar dos níveis inferiores. Os túneis foram invadidos por Escavadores e os humanóides começaram a função de limpeza, mas alguns tinham sido esmagados com a emersão das Bestas subterrâneas. Estavam muito próximas.

- Ricardo, tu falaste sobre os sistemas de comunicação terem sido cortados antes de as forças invasoras chegarem. O que é que querias dizer com isso?

- As Bestas não são os nossos únicos inimigos. Não achas demasiada coincidência teres activado a emergência e os Asas ainda não terem chegado? Esse sinal é enviado do nosso Forte para a Central. Não devia ser interrompido pelos Sensores. Acredito que há algo mais por detrás disto, há alguém interessado na queda deste Forte. E para mais, ninguém enviaria trinta das melhores forças de elite, com suporte humanóide, e os dispersaria em cinco equipas quando não tinham a certeza do que os esperava. O vosso Sargento recebeu ordens para que tal fosse feito nessa situação. – A voz tremia enquanto falava com Vicente; o sistema de absorção de impacto dos canhões não conseguia responder à brutalidade dos projécteis disparados.

Tudo era barulhento, todos berravam para se fazer ouvir, mesmo com os sistemas de intracomunicação.

- Ricardo, o último dos humanóides acabou de ser eliminado. Eles devem entrar pela porta a qualquer momento. - O terceiro cabo da equipa Tango ainda era vivo e desempenhava as suas funções com excelência.

- Os híbridos tomam conta disso.

O estrondo do embate dos Porcos Espinhos na porta  aterrorizou todos os que estavam na torre, mas não podiam parar. Era lutar até morrer. Ainda nenhum deles caíra, e já mais de metade da força invasora fora eliminada, mas agora estavam perto... muito perto.

- Ricardo, peço permissão para colocar mais um na entrada; dois híbridos não serão suficientes.

- Faz isso. E toma em atenção...

A porta rebentou e Ricardo foi interrompido, os destroços da porta espalharam-se pela Torre de combate. Os híbridos entraram em acção. Fabulosas máquinas de guerra e destruição; ligadas aos canais de fornecimento de munições da torre, recarregavam automaticamente e não paravam. A matança foi absurda.

- Ricardo, Ricardo, estamos a aguentar, eles vão-se retirar a qualquer momento. Eles não conseguem invadir!

Vicente virou-se para Ricardo e só então reparara porque ainda não ouvira o seu gáudio com a morte de tantas Bestas: o peito havia sido esmagado por um dos destroços do portão; de Ricardo apenas restava um corpo sem vida.”

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