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Escrita Criativa / Piratas

Dia Internacional dos Piratas

Ainda não consigo acreditar que quase deixava passar um dia destes em branco. 

Aqui vai.

“– Este é mesmo noviço! Tens o estômago verde, rapaz! Tragam-lhe uma caneca de rum e depressa se habitua, yarr.  – Não tinha estômago forte e era comum fazer um espectáculo indigno nas poucas viagens que fazia. Ainda assim, o vómito tinha melhor aspecto do que o pirata. Chamavam-lhe Lindo, em jeito de troça; era o Capitão.

– Estômago e cabeça! Não foi muito inteligente vomitares no lado da amurada que está contra o vento. – A ironia dos piratas não se estendia a Lindo; Barbas era um pirata todo ele pêlo, e somente a cara não tinha barba, tomada em seu lugar por uma pele horrivelmente queimada.

- Parece que não....- As palavras sairam-me lentas e sem força, obstruídas pelo que vinha do estômago.

– Olha, Lindo, é ou não é inteligente o teu recruta? Desta vez foi à amurada certa! Aprende bem!

Não era comum haver piratas inteligentes; na sua maioria, eram rufias motivados pela pura ganância, desprovidos de qualquer pudor ou respeito pelas gentes normais. Feios, porcos e maus, desdentados, ou até com dentes a mais, as suas figuras eram repugnantes, os seus cheiros pestilentos e as suas atitudes reprováveis. 

As suas leis provavam isso mesmo. A que mais me divertia era a lei oitava: o pirata que não mantivesse as suas armas prontas para o combate, que ficasse noivo, ou se esquecesse da sua função, devia sofrer uma qualquer punição que o capitão e a tripulação quisessem.Como é que se podia esquecer da sua função no navio? Quanto à noiva, era compreensível, mais pelo lado dela, que teria de se submeter às ordens de tamanho energúmeno, se bem que alguns deles tentassem fazer de prostituas suas noivas e elas até nem se importassem.

Por falar em prostitutas, costumavam manter a bordo algumas para satisfazer as mais básicas das necessidades: comida e sexo. Elas funcionavam como cozinheiras quando não estavam a limpar das suas pernas os prazeres dos homens.

Era o caos total. 

– Arghhh, Barbas, ainda estás na fila? Despachem-se aí à frente, não tenho o dia todo, estas forças já só me surgem algumas vezes ao dia! – Tudo era deplorável. Para piorar, eram mal alimentados e alguns até desmembrados. Apenas uma coisa sobressaia no meio de tudo isto, algo de incompreensível: eles sentiam-se em casa. De alguma forma, aquele caos fazia sentido, e até havia relatos de piratas que se sentiam perdidos em terra e acabavam a noite num convés de um barco qualquer. 

Se a água era a sua casa, podiam pelo menos usá-la para se lavarem.

Vim cá parar porque meti a mão onde não devia; literalmente. A Condessa era uma mulher vistosa, de pernas fartas e corpete delgado. Costumava vê-la nas festas do Lorde Torres, magnata de Tortuga, uma cidade Francesa nas Caraíbas sem lei que a regesse. Obviamente que ela não era  a mais pura das Condessas, apesar de ser Senhora do Lorde. Atirava olhares gulosos com frequência, e, um dia, atirei a minha mão à procura do sabor da sua outra boca. Fui apanhado, mas apenas de vista. Fugi, e cá estou, onde se aceita qualquer homem com qualquer história com umas boas gargalhadas e umas palmadas nas costas. Alguns levam uns tiros caso o grupo esteja demasiado bêbado, mas acaba por ser a única solução.

– Lindo, diz-me lá o que vamos fazer hoje. – Os piratas eram exímios a procrastrinar, mas perguntavam sobre o que fazer para terem a certeza que eram isso que não estavam a fazer.

– Arghh, não sei! Não se avistam galeras há alguns dias, talvez andemos a aterrorizar em demasia estas linhas. - As palavras surgiam de todo o lado, sem se poder identificar quem as falava.

–  Ah! Eu acho que deviamos colocar o noviço com as meninas, ele parece ter pele tão delicada quanto elas, há  aqui alguns que hão-de gostar mais dele do que delas.


– Dai tempo ao rapaz, ele ainda não teve tempo de mostrar a sua coragem. Todos temos uma primeira vez; não é, Buraco? - Respondeu o Capitão.

Não preciso de explicar a origem do nome Buraco, pois não? Ainda assim, acho que deva. Buraco foi baptizado com tal nome por causa do fantástico buraco que tem desde que amparou uma bala com a cara, supostamente para proteger o seu Capitão. Na realidade, é um dos que se esquece frequentemente da sua função. No dia em que forjou a sua marca, estava perdido no convés, a fugir de todos os piratas que abordavam o seu navio. Aconteceu passar perto do capitão na altura em que alguém o tinha na mira. Fez-se um Herói. Ah! Buraco também era homossexual!

Tendo isto dito, a vida de pirata era uma miséria, longe das visões romanceadas das Senhoras de Lordes. Tudo fede, tudo é fraco. Ouro e glória na batalha são as duas únicas honrarias, se bem que ache que só as procuravam porque assim tem de ser. O que seriam eles se não fossem piratas?

– Galé à vista! Capitão, fazemo-nos a eles? 

–  YARRRRRRRR!”

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