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Escrita Criativa / História de Portugal

Partidas e Chegadas

Inspirado pelas festas Afonsinas, hoje vou escrever novamente sobre História. Tanto na coluna de ontem como na de hoje tentei equilibrar a fantasia com o rigor dos factos.

Para o caso de terem perdido a batalha de São Mamede, aqui vai o link: http://maisdoqueummuitos.blogspot.com/2011/09/el-bortukali-el-bortukali-significa.html

Hoje, dia 18 de Setembro, celebra-se o aniversário da chegada triunfal de Vasco da Gama a Lisboa, após a descoberta do caminha para a Índia.

Por isso, aí vai uma história de marinheiros.

-Terra à vista! Terra à vista! Terra à vista! Terra à vista...

 -Cale-se! Raios, já sabemos que a costa portuguesa deve surgir a qualquer momento. Quem foi o responsável pela contratação deste vigia? Vem-nos a assombrar desde que partimos de Portugal. – Vasco da Gama andava nervoso desde que viu seu irmão, Paulo da Gama, adoecer e morrer perto dos Açores, e já não tinha paciência para aturar os mareantes: estúpidos, supersticiosos e religiosos; mas bons camaradas.

No décimo oitavo dia do nono mês, na nau São Gabriel...Diogo Dias era o escrivão da nau e fazia registo da viagem desde que partiram de Lisboa a 8 de Julho de 1497. Registara os bons momentos, mas também os maus.

- Diogo, não vais escrever como berrei com o vigia, sobre o heroísmo de atirar os corpos de camaradas que cederam à doença e aos ferimentos ao mar?

- Senhor, esta obra que publicarei ficará conhecida como << Os Portugueses >> e contará a história da nossa aventura épica, em todos os momentos.

- Vós muito vos preocupais com a fama e pouco com os vivos e mortos. Publique o que quiser, a única coisa que me faz falta é sentir os meus pés na minha bem amada terra, o ouro e as doações prometidas. - Vasco da Gama sentia que apesar de terem passado juntos por tantas provações, a tripulação já não podia aguentar mais um dia naquele barco.

- Senhor, acho que não devia ser tão exigente com a sua tripulação nesta fase. Todos estamos saturados uns dos outros e apenas desejamos os braços das nossas mulheres, os risos dos nossos filhos e o que nos foi prometido por el-Rei D. Manuel I. – O mestre Gonçalo Álvares era o braço direito de Vasco da Gama, e único mestre da frota que partira.

- Quer isso tudo, Mestre? Eu contento-me em chegar inteiro. Dois terços da frota morreram e metade dos vivos está doente, mais uma semana e dúvido que tivessemos homens suficientes para manobrar a nau. – Pêro de Alenquer ainda pilotava a nau, apesar de já se notarem efeitos do escoburto e não estar assim tão inteiro. Apesar de toda a fruta ser reservada para o alto comando do navio, começava a sentir-se a sua rarefacção.

- Sim. Muitos de nós morreram e alguns para lá caminham. Pergunto-me o que será que vão colocar nas cantigas. Será que se lembrarão dos que pereceram? Cantarão para os mortos? Ou apenas lembrar-se-ão do feito heróico da ida e volta à Índia? – Vasco da Gama achava que a viagem era por si só um acto de heroísmo, mas perguntava-se de como seria isto relatado, Será que vão querer saber dos mortos? Estamos vivos porque eles morreram, e nada mais. São eles os hérois.

-Senhor, não me pergunto muito sobre isso, apenas pergunto se os meus filhos e a minha mulher estarão à minha espera, e pergunto-me quantos novos terei. Não é por nada que chamavam à minha mulher Maria Pernas Abertas.- Respondeu um dos mareantes. Espalharam-se risos pela tripulação. Apesar de tudo, ainda mantinham o ânimo. Afinal, fora o espírito de camaradagem que os trouxera tão longe.

- Mas, Senhor, descobrimos o caminho marítimo para a Índia. Somos um povo do mar, tudo isto valerá pelas vidas que perdemos. Ficaremos para sempre eternizados.- Diogo Dias estava bem de saúde. Era um dos princípios de qualquer nau: o escrivão tinha direito a comida, ainda antes do próprio Capitão. Era por isso que tinha forças para sonhar; sonhava porque podia, porque não tinha nem doença nem dor estridente que lhe perturbasse o sono. Um priveligiado que sentou o cu naquela sala a escrever sobre o que nada fez, a ver a sua tripulação morrer e a escrever sobre isso em vez de os manter.

-Deseje o que quiser, mas acho que os mortos preferiam estar vivos, e não marcados numa página de um maldito livro sobre um povo que nem se importa em saber ler. Pêro, façamos estas últimas horas de viagem, já estou farto do cheiro desta nau. - O único grande heroísmo foi sobreviver a esta viagem.”

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