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Escrita Criativa / História de Portugal

El-Bortukali

El-Bortukali significa <<O Português>> e foi primeiramente envergado por D. Afonso Henriques em honra das suas conquistas, sendo um nome de origem muçulmana, os principais conquistados.

Este fim de semana celebram-se pela primeira vez as Feiras Afonsinas em Guimarães. A festa resulta da fusão de duas feiras medievais que ocorriam para celebrar as conquistas de D. Afonso Henriques:  Feira Joanina e Doçaria no Convento.

Por isso, hoje vou tentar fazer uma história sobre algo que se tenha passado nesses tempos, não com o português de outrora, mas com um tom mais moderno!
"Espalhava-se pelo ar um som de trovões, ecos profundos que se diluíam por toda a vila; eram ferraduras de cavalo a bater desenfreadamente nas calçadas portuguesas. Seis cavaleiros subiam furiosamente pela encosta acima, onde se ergueria o Paço dos Duques, até chegarem às portas do Castelo de Guimarães. No alto do Castelo, na torre principal, Infante Afonso Henriques esperava por notícias dos seus postos fronteiriços. Armado cavaleiro em Tui após valoroso esforço no cerco de Guimarães, em 1127, sentia o peso do comando das suas forças militares e mostrava-se cada vez mais nervoso. Sabia que a sua mãe se tinha aliado a Fernão Peres de Trava e que este desejava conquistar Braga e Guimarães, os últimos redutos fora de  controlo do condado Portucalense. Já os tinha tentado conquistar um ano antes, com o afamado cerco a Guimarães, mas falhara.

– Infante Afonso, os cavaleiros não esticam as suas montadas por nenhum motivo. Talvez tenha chegado a hora. Acredito que estes guardas fronteiriços lhe trazem o futuro que merece. Deve apoiar-se no ombro de Deus e pedir Sua ajuda, pois é nesta hora que a vossa honra será posta em causa. – Paio Mendes era o principal tutor de Afonso e era também Arcebispo de Braga. Sempre sentiu que o espírito lusitano era forte em Infante Afonso Henriques,  e pensava que deveria ser ele a tomar rédea do Condado Portucalense. Pressentia que havia chegado o tempo.

-Calma, senhor. Eu é que sou o jovem e o senhor é que tem pressa. Eu não pedi para ser quem sou, mas fiz uma jura de cavaleiro: defenderei o meu povo e o meu castelo, especialmente contra minha mãe. Perdeu a honra quando se aliou à casa Trava e quando nos cercou há um ano. Mas isso não me faz mais confiante nas minhas forças; sei que são fortes, mas já não somos muitos.

As portas da torre foram abertas. Entraram os cavaleiros. Estavam esgotados, notoriamente desgastados da cavalgada de vários dias e com poucas horas de descanso; falavam ao mesmo tempo e engasgavam-se nas suas palavras, com o ar a querer entrar e sair ao mesmo tempo dos pulmões.

-Acalmai-vos! – El-Bortukali elevou a voz - Tragam um jarro de hidromel e roupas lavadas, preparem um banho de água quente. Sentai-vos. Agora, dizei o que aqui vos traz.

- Senhor, avistamos forças de  sua mãe Dona Teresa de Leão,  de Fernão Peres de Trava e do Arcebispo de Compostela a Sul e Norte de Guimarães. As que vêm de Sul sairam de Viseu e de Coimbra há não mais que umas semanas, mas trazem uma forte hoste. Senhor... eles são milhares, dezenas de milhar.
Afonso olhou para os servos e para os seus intendentes.

 Temos então muito que fazer. Temos uma nova guerra a travar. Convocai todas as nossas forças, invoquai todas as promessas de fidelidade, arrastai-os se for preciso.- Virou-se para Paio Mendes. - Vão tentar encurralar-nos novamente. Desta vez não ficaremos aqui, acredito que podemos utilizar o monte de São Mamede em nosso favor. Eles perceberão que o terreno lhes traz perigo, mas vão acreditar que os números compensarão tal facto, e avançarão.  Dar-nos-á alguma protecção. Eles subirão a encosta de São Mamede, ficarão cansados, mas os cegos não vêm os buracos à sua frente. Mas não será suficiente. Preciso de algo mais, preciso de convocar a cavalaria para os atacar por detrás. – Senhores, convoquem também toda a cavalaria.

 Mas, Senhor Infante, não há cavalaria; se houver, somos muito poucos. Alguns ainda estão com mazelas do cerco de há um ano. – Replicou um dos intendentes do Infante.

 Pergunta se preferem morrer, e vê qual a sua resposta. Tirem dos corrais todos e quaisquer cavalos, metam neles todo e qualquer homem, idoso ou criança que saiba galopar e dêem-lhes armas. Vamos precisar de uma força de carga a meio do combate.

 Senhor, achais que ireis conseguir parar a máquina de guerra Galega e de Senhora Dona sua mãe? Certamente que Deus nos ajudará, mas há coisas que nem com a Santa ajuda Dele se superam. - Paio Mendes mostrava-se irrequieto com as novidades, sabia que iriam instigar sobre as paredes do Castelo como já tinha acontecido, mas não esperava nada a esta escala.

– Ao que parece, as forças do Arcebispo de Compostela também os acompanham. Não sei de que lado estará Deus, por isso trate de rezar mais; faça mais missas, peça mais ofertórios, o que for preciso, voçê é que está próximo Dele.

– E quanto à sua mãe, Senhor?

– Trato-a com o meu eterno carinho. Se aparecer no campo de batalha, que se previna; sei que matar alguém da própria família é o maior de todos os sacrilégios, mas juro pela minha vida que lhe vou cortar aquela Real cabeça de Leão.

– Senhor... eu... eu acho que se devia retirar durante a noite da cidade, não acredito que sobrevivamos a tal investida.

– Paio, já me devíeis conhecer melhor. Sabeis que vou fazer o que é preciso ser feito.

 E o que é que é preciso ser feito?

- Esperar. Matar. Humilhar. Vencer."


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