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Escrita Criativa / Califórnia – Nova Série, 1° Episódio

Um miúdo misterioso


Nova série com actualização semanal.



“As sapatilhas estavam muito justas; o dedo do pé ia de encontro às bordas da sapatilha e Califórnia sentia-o a perder sensibilidade. Ainda assim, insistia em usar duas meias. É para encher o pé! Dá mais força à bola! Era assim que entendia e era assim que tinha de ser.

- Passa à bola! Aqui! Estou livre!

Os dias de Califórnia eram passadas na brincadeira. De manhã, andava na escola como todos os outros miúdos; à tarde, ia para longe de todos os amigos e ficava normalmente em casa, sozinho. À noite, jogava futebol no clube da terra, embora não o percebesse como tal, sendo apenas uma extensão às brincadeiras do dia. Era um miúdo inteligente, perspicaz e com forte capacidade de automotivação. Em tudo o que fazia tentava melhorar, não somente ser melhor do que os outros, mas melhor do que ele mesmo; aprendeu isso com o Tio.

Anda cá! Já te apanho! Ouviu um apito.

- Mas eu não fiz nada! AMARELO? João, estás estúpido? – A entrada que tinha feito sobre o adversário parecia-lhe um pequeno toque, um empurrão ao de leve!

-Não quero cá discussões; senhor jogador, afastesse. – O amigo da sua idade que funcionava como árbitro desempenhava o seu papel peremptoriamente e não recuou na decisão, era uma falta claríssima.

A mente de Califórnia via claramente a situação, mas não aceitava. A boca fugia para a mentira, mas sabia que tinha sido falta.

- O quê? Que estás para aí a dizer? És um palhaço, João!

Os pais dos miúdos costumavam assistir aos treinos e, de cada vez que assistiam, não podiam deixar de ter a impressão que os miúdos de hoje tentavam representar fielmente tudo o que viam nos meios de comunicação; até nas palavras.

Já em casa, os pais falavam sobre tudo com ele: sobre a escola, sobre o dia, e viam se tinha feito os trabalhos; tentavam ajudar sempre que podiam e quando ajudavam romanceavam sempre toda e qualquer situação. Não era iludir, era tirar o peso do realismo e dar um subtil toque de magia à vida; eram os melhores amigos de Califórnia, mas, mais do que isso, eram pais. Como tal, Califórnia sempre foi cabeça no ar. Passava o dia a imaginar situações pela qual ele podia passar, mesmo que grande parte do tempo o passasse sentado na cadeira da saula de aula, ou no autocarro.

Todas as manhãs, a rotina aborrecia-o: “Arruma isto, arruma aquilo...” Tá bem... Já faço... Sim... Demasiadas responsabilidades.

Gostava de chegar à escola, chegava às aulas sempre cheio de energia. Enquanto os seus amigos ainda estavam a sentir os efeitos secundários de despertar naquelas idades,  ele estava com o metabolismo elevado.

- Hoje vamos falar sobre Equações e...- As aulas eram sempre interessantes, adorava aprender, mas de vez em quando lá lhe fugia a cabeça e começava a imaginar. Imaginava o que desejava.

Um homem terrível, de barba mal feita e feia, entrou pela porta dentro, rebentando-a com o seu martelo gigante. Todos ficaram em suspenso, horrorizados pela violência. Eu não. Eu sabia. Apenas eu poderia parar tal homem, mas tinha que manter a discrição do meu poder.

Os miúdos começaram a fugir, e por algum motivo o terrível homem apenas se ria ignobilmente e arremessava o martelo contra as paredes, deixando-os a todos escapar; enquanto isso, o Manuel tropeçava na borda da porta, o Carlos fugia a chorar, o Filipe estava cheio de medo agarrado à professora e o João tentou armar-se em herói e acabou atirado sala fora.

Por grande azar, ou sorte, apenas a minha secreta paixão ficava na sala, gelada pelo terrível aspecto do Bárbaro que cuspia em vez de dizer palavras.

Oh, Rita, não te preocupes, vou-te proteger!

Apontando directamente para o monstro, ameaçei-o:

TU! Como tens coragem de perturbar esta jovem indefesa. És um malfeitor, e eu não gosto nada de malfeitores.

Projectei-me contra ele a uma velocidade sobrehumana, interceptei os seus abdominais  com o meu punho com tal violência que apenas a parede podia parar o seu movimento perpétuo. Várias salas à frente, o Bárbaro levantou-se e ao seu martelo de entre os destroços e começou novamente a cuspir palavras.

Entretanto, agarrei Rita, que passou a ser minha namorada, e fugimos para um local em segurança.

- Califórnia, porque é que estás a olhar para a parede? Há lá algo assim de tão fascinante? Concentra-te no quadro, vá! Como eu dizia...- A professora sabia quando o Califórnia sonhava, e deixava-o lá estar por uns bons momentos, mas quando tinha algo de importante a dizer chamava-lhe a atenção. Os outros miúdos riam-se sempre que era apanhado a sonhar.

Na realidade, Califórnia era tido como um miúdo estranho. Era aceitável, mas havia algo nele que os míudos simplesmente desconfiavam. – Parece não querer saber de nada – Era assim que os seus amigos o caracterizavam; não diziam muito mais porque também não sabiam o que dizer.

Era de facto um miúdo misterioso, com alguns inimigos.”

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