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Escrita Criativa / Centro Comercial

Centro Comercial

“Após um dia de trabalho, chegar a casa é o primeiro passo para o conforto: calçar os chinelos, libertar-se de toda a pressão diária, sentar-se no sofá, ligar a televisão e... reparar que a mesa está desarrumada, que  a loiça ainda não está lavada, que há falta de comida nos armários e que é preciso ir ao centro comercial, ou a uma qualquer loja. O centro vem mais em mão, tem tudo. Há sempre que fazer numa casa.

Na vida de um casal jovem actual, é suposto haver partilha de deveres, obrigações e regalias. Na  realidade, quem chega primeiro a casa começa a trabalhar, a organizar e a pensar no que fazer para o jantar.

Hoje foi a vez de sair a fava a Tábua. Ainda se lembrava do telefonema.

- Amor, não posso chegar a casa antes das 21h, vou estar em reunião. Temos o lançamento de um novo produto e está tudo louco. Podias tratar de pôr tudo direitinho em casa? Beijinhos fofos.

No fim da conversa, apercebeu-se que não tinha sequer respondido. O pedido era uma ordem disfarçada. Maldita mulher. Era normal praguejar contra a mulher secretamente, fazê-lo era parte da arte de a amar. Duas pessoas nunca estão completamente de acordo, tem de haver cedências.

-Sim, fofinha...- Respondeu, antes de desligar a chamada.

Arrastou-se do sofá, levantou-se com uma grua feita para o propósito e olhou para  a casa. Eram 17h 30m, ele tinha chegado bastante mais cedo do trabalho. Quando se é um trabalhador independente, há flexibilidade. Vou tirar esta tarde para descansar. Tenho trabalhado em excesso e preciso de uma hora só para mim, pensara Tábua minutos antes de sair do seu trabalho. Não se podia ter enganado mais.

Arrumou a casa com todo o vagar do mundo, tudo muito lento; nada fez sem dois ou três vitupérios. Água a escaldar, pratos a escorregar, tudo isto batia-lhe profundamente como um martelo no peito. Apetecia-lhe berrar!

No fim, ainda tinha de fazer compras. Mas esta parte não o incomodava. Incomodava o tránsito até lá, a confusão da cidade e as compras em si; mas lá chegado tudo ficava melhor.

Adorava ver a quantidade absurda de mulheres. Até podia não fazer nada, mas gostava de lá andar. Era uma feira de mulheres. Sabia perfeitamente distinguir uma coisa da outra: uma coisa é a namorada, outra é ver estas mulheres nas suas compras; não se desrespeita a primeira com a segunda, pois não?

Tinha lido recentemente um artigo sobre a promiscuidade feminina potenciada por sociedades fechadas, com menor ciclo de integração de nova informação genética. Bem, ele vivia numa pequena cidade, que até era considerada fechada. Decidiu confrontar o estudo.

Não era um homem mal feito, mas também não era nenhum modelo. Não esperava grande adesão. Sabia que havia uma ou outra a olhar por casualidade. Estava somente à procura de olhares gulosos.

Decidiu olhar no olhos das mulheres e ver a sua resposta. Enquanto lá andava, fixava os olhos sempre que se lembrava de tal. De facto, se os olhos fossem no rabo, pernas, cinta, ou peito das mulheres, aí sim tinha olhado nos olhos mais vezes!

As mulheres andavam de um lado para o outro, sempre com a aparente ilusão de saberem para onde iam, focadas no que tinham a fazer. Reparara que muitas delas deslocavam subtilmente os olhos na sua direcção, enquanto o seu corpo não reflectia nenhuma mudança.

Elas são exímias observadoras. Nem dá para perceber que fomos vistos, olhados de todas as formas; tanto quanto sei, fui completamente ignorado. Mas sei que elas me viram, tal como eu as vi.

Estatelou-se numa mesa para o efeito, e pensou para si mesmo enquanto descansava.  Sabia que proporcionar momentos de felicidade através da visualização de espécimes femininos era  saúdavel para os homens.  Era apenas mais um artigo que tinha lido na Nature. Concluiu que o centro comercial lhe dava muita saúde.

Feitas as compras, chegou a casa de sorriso feito, acabou o que tinha a preparar e esperou pela mulher.

Quando o seu amor chegou, encontrou-o com uma cara sorridente. Ele é um querido, limpou a casa, foi ás compras e ainda fez o jantar. – Ò fofinho, não precisavas de fazer o jantar. Já vinha com ideia de tal. És mesmo querido.

Beijaram-se.

- Oh, não foi nada. Até gostei! “

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