“ – Vai mudar o mundo?
– O mundo já mudou. Nós somos essa mudança. –
Disse com uma voz ríspida e autoritária, num alemão fortemente vincado e com sotaque rígido e intransigente.
Assistiam ao tratado.
“Os governos do Japão, Alemanha e Itália consideram-no como condição precedente
de qualquer paz duradoura que a todos os países do mundo seja dado o seu lugar
adequado; decidiram assim cooperar mutuamente nos seus esforços na Ásia
Ocidental e nas regiões da Europa onde é o seu objectivo primário o
estabelecimento e a manutenção de uma nova ordem das coisas, calculado para
provomer a prosperidade mútua e o bem estar dos povos respectivos. É também o
desejo dos três Governos extender a cooperação a nações de outras esferas do
mundo que estejam inclinadas em alinhavar os seus esforços ao longo de linhas
similares, com o propósito de realizar o seu objectivo último: paz mundial.
Assim, os governos do Japão, Alemanha e Itália concordaram nos seguintes
termos...”
O mundo assistia ao nascimento do pacto Tripartite. Aqui definia-se um
ponto de viragem na política mundial. Efectivamente, havia uma força comum
interessada em dominar tudo e todos. Era motivo de orgulho para Alemães,
Japoneses e Italianos. Mas nem todos concordavam; alguns alistavam-se no
movimento porque assim tinha de ser, mas mantinham a reserva e alguma moral.
Havia momentos em que essa moralidade ameaçava a sua prórpia sobrevivência; era
um mundo perigoso.
– Anunciamos os nossos intuitos com flores e palavras decoradas. Com
as nossas mãos praticamos os maiores crimes...
– Perdes a fé no Reich? És fraco se assim pensas. O Reich guiár-nos-á
ao nosso devido lugar. Somos melhores, temos melhor linhagem e melhores atributos. O
Japão e a Itália partilham da mesma visão, mas sabem que são mais fracos do que
nós. Eles não são arianos. O resto do Mundo subjugar-se-á.
– E quando haverá paz?
– Se não resistissem, já
estariam dominados e facilitavam todo o processo. Haverá paz quando nós
dominarmos os seus destinos. Serão grandes se se unirem à nossa causa. Não há
outra forma.- Olhou para o seu aliado de forma inquisitiva, transpirava nele
clemência pelos fracos. Tal não era permitido. - Não estivestes presente no discurso
do nosso Reich? Começaram apenas com sete membros, vê ao que nos trouxe. Somos
a maior força política, somos um movimento pela verdadeira força.
Apesar de ser um acordo entre três países, todos eles respondiam ao
apelo Nazi. Quando o povo aclamava pela força fascista, todos aclamavam por
Hitler. Hitler era o rosto central de uma guerra que agora tinha um eixo formado
por três fortes pilares: Mussolini, Hitler e Hirohito.
– E se o mundo continuar a resistir?
– Morrerão. Nós levaremos o mundo aos nossos ombros. Nós somos os
gigantes.
– Estais muito seguro. Talvez; mas talvez nos partam as pernas com tal
peso, aí rastejaremos. Homens com a liberdade ameaçada são o maior dos perigos
para qualquer força invasora.
– Agradece o facto de estares nesta convenção. As mais altas
instâncias militares estão presentes e tudo será rápido.
– Rápido?
Foi subitamente arrastado por dois guardas; não havia percebido o subtil sinal do homem com quem falava para as forças de segurança. A boca era
uma arma letal; as palavras disparadas em lugares errados acabam por matar quem
as atirava.
– Mas, eu não fiz nada. Não me podem fazer isso.
–Sentenciaste a tua morte quando deixaste de acreditar em Hitler. HAIL
HITLER!
Um eco em coro fez-se ressoar pelo edifício. Soou a morte.”
Fez três anos que o pacto Tripartite foi assinado em Itália. Houve
histórias semelhantes a estas durante todo o evento, sendo que nunca mais se
ouviu falar de quem tinha falado.
Escrevi esta história em honra de quem a memória não chega por abuso
de poder e autoridade. Foram apagados de todos os registos, mas as palavras
ficaram. Os que viveram para contar a história foram as suas últimas cédulas de
óbito. Lutaram; ninguém se lembra, mas lutaram!
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