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Escrita Criativa / Califórnia, 3º episódio.



Curiosidades


"A caminho da escola para mais um dia em cheio - com bolas de lodo ou sem elas -, viu uma rapariga triste junto ao jardim de sua casa. Era Outono e algumas das suas árvores começavam a murchar. Era algo que Califórnia tinha dificuldades em aceitar: pessoas tristes. Sabia que era horrível alguém sentir-se assim;  ele próprio se sentira diversas vezes. Prontamente falou com a rapariga.

- Olá! Desculpa incomodar, mas porque é que estás aqui sozinha? Fugiste de alguém, partiste alguma coisa, alguém te feriu? É por isso que estás triste?

- Ah? Não, a minha casa é aqui atrás... Estou triste porque estou a ver o meu jardim a murchar e não posso fazer nada a esse respeito.

-O quê? – Olhou para o jardim a procura de árvores queimadas, cortadas ou desfeitas. Mas tudo parecia bem. Viu fortes roseiras com rosas fartas e belas, com delicados veludos vermelhos a sair dos seus ramos. Olhou para ela. – Não percebo. O que é que está mal?

- Não vês estas folhas aqui no chão? As árvores estão a murchar,  a ficar amareladas. Não gosto de as ver despidas, gosto de as trepar e sentir o calor do verão encostada aos seus ramos, sentir o som da folhagem enquanto uma brisa faz os ramos baloiçar.

Ficou perplexo, a rapariga falava muito bem. Não estava habituado a ter conversas agradáveis a não ser com Rita. Mas nem eram conversas assim tão boas. Gostava é de olhar para ela e sentir o seu cheiro adocicado.

- Sempre podes ajudar a árvore! Imagina que ela não está  a murchar; imagina que as suas folhas estão verdes e que está novamente calor. Se imaginares com muita força, pode ser que se torne realidade.

Obviamente nada aconteceu; ela sorriu e agradeceu o comentário simpático. Não lhe disse, mas desejou de todo o coração que fosse verdade. Ele sentiu-se estúpido: nem toda a gente é palerma como tu, Califórnia, o Borrado; tens de crescer, um miúdo de 15 anos já devia ter responsabilidades: arranjar raparigas, ter estilo, falar com os professores sobre assuntos interessantes. Fazer alguma coisa. Eu só imagino...

Corou e despediu-se dela; continuou o seu caminho para mais um dia de problemas na escola. Achou-a estranhamente interessante e acabou por olhar para trás enquanto fazia o seu caminho. Ela lá continuava a remexer nas folhas com a sua mão.

Na escola havia barulhos de todos os lados, mas por algum motivo apercebeu-se de um rádio ligado. Passavam notícias sobre engarrafamentos e sobre princesas da música "pop". Gostava muito das princesas da "pop". Achava que elas eram pessoas fantásticas, que podiam ver o que havia de especial na alma das pessoas. Que, no meio de uma multidão, seriam capazes de olhar para Califórnia  e entender que ele era um rapaz especial. Mas na escola não era assim; as raparigas eram estúpidas, só queriam saber dos rapazes mais badalados, e ele era sempre deixado de parte.

Estava um dia de calor. Na sala de aula, o cheiro a suor tornava o ar pestilento.

-Bem, que calor!  Não se pode confiar nos boletins metereológicos, como é possível darem céu muito nublado e temperaturas de 15 °C e estar um tempo destes no dia seguinte? – A professora trouxe mais roupa do que o normal para Verão, tinha sentido um ar frio matinal e sabia do boletim. Sufocava com o calor.

-Ligue o alarme de incêndio, professora. Uma chuva vinha mesmo a calhar! – Os alunos não tinham problemas em imaginar situações. Toda gente o desejava, mas ninguém o iria fazer; era uma questão de princípios.

-Ridículo. Preste atenção em vez de dizer barbaridades.

O calor agitava os alunos, que agitavam a professora, o que em última instância tornava tudo mais difícil. As aulas, a aprendizagem, todos ficavam a perder enquanto continuassem lá dentro.

- Califórnia, não resulta comigo. – Miguel era grande amigo de Califórnia e, apesar de ridicularizar a sua imaginação, dava-lhe o benefício da dúvida em algumas situações. Não custa nada acreditar, se imaginar com força, vou ficar fresco. Nada acontecia, e até achava ter ficado com mais calor - Tu e as tuas ideias... Ainda não sei o que fazes para que eu acredite em ti.

Ligou-se o alarme de incêndio. Tudo se passou muito rapidamente, mas cada momento pareceu  demorar uma eternidade: a professora deu as costas ao quadro e fulminou todos os alunos com um olhar rápido, à procura de um possível culpado. Todos estavam sentados nas suas cadeiras, com a água a cair-lhes lentamente na cabeça.  Viu caras de surpresa e choque ao frio da água, que lentamente se transformaram em sorrisos e euforia. Enquanto o dispersor enviava gotículas em todas as direcções, os miúdos levantaram-se, alguns colocaram-se em cima da mesa e saltaram. Tudo lentamente. A professora apressou-se a desligar o interruptor. No fim, havia nos miúdos um ar de cumplicidade, como se tivessem partilhado um momento especial. Para a professora, era apenas mais um motivo de requerimento. A organização escolar está cada vez pior, já nem fazem inspecções de segurança!

-Vês, Miguel. Eu disse-te!”



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